A explosão do digital, gerada pelas novas realidades que a pandemia da Covid-19 trouxe ao mundo, não tem previsão de retrocesso. Pelo contrário, deve ser cada vez mais tendência no dia a dia das pessoas, com impactos diretos no mundo dos negócios. É o que avalia a economista e gerente de Tecnologia do Itaú BBA, Júlia De Luca, ao traçar o cenário empreendedor para 2022, ano que se consolida como o terceiro da pandemia. “A maioria das startups se beneficiaram com a pandemia. No e-commerce, por exemplo, as vendas praticamente dobraram entre 2019 e 2021, passando de R$ 75,1 bi para R$ 149,03 bi, o que representa um aumento de 98,44%. Então, é realmente um salto”, diz.
Ao classificar esse movimento como contínuo, Júlia traz outros setores à lista de negócios que estão, assim como as lojas on-line, surfando na crista da onda tech.
“Outros empreendimentos se deram muito bem, como as empresas de pagamento on-line, de transações digitais, os market places (como Rappi ou Ifood), as edtchs, healthtechs, o setor de logística, os produtores de conteúdo digital, influenciadores, e tudo o que está em volta desse ecossistema, também se beneficiou”. Júlia De Luca, economista e gerente de Tecnologia do Itaú BBA
Segundo ela, vale destacar outras que geraram um impacto imenso no mundo corporativo. “Empresas como a Gupy, de contratação remota, assim como as de assinaturas e contratos digitais, deixaram processos muito mais práticos e ágeis. Tudo isso já passou a ser normal e não deve mudar, mesmo em um cenário de maior abertura, como temos atualmente”.
Para entender melhor, as edtechs são empresas que usam a tecnologia para criar soluções inovadoras na área de educação, enquanto as healthtechs, são startups voltadas para resolver problemas do setor de saúde, abrangendo clínicas e hospitais modernizados, gestão otimizada de entidades públicas da saúde, consultórios médicos inteligentes, tecnologias avançadas para exames clínicos e laboratoriais, autoatendimentos, entre outros.
HISTÓRICO DA PANDEMIA
Ao traçar o histórico desse movimento de crescimento do digital no ambiente empreendedor, Júlia faz um histórico e explica que, com o cenário de pandemia, uma expressiva parcela de negócios foi, naturalmente, ultra-afetada, como pequenas e médias empresas, que têm lojas de rua, e os empreendedores um pouco mais tradicionais, que com certeza sofreram maior impacto, muitos deles, inclusive, baixando as portas.
“Tivemos uma pandemia muito dura e severa e, se por um lado isso gerou impacto negativo para alguns setores, foi uma grande oportunidade para outros que apostaram na tecnologia. Tivemos, em seguida, um primeiro momento de reabertura e muitas dessas empresas, até então fechadas, voltaram a abrir suas portas. Logo depois veio um novo fechamento, em alguns locais, por causa da variante Ômicron. Então, eu sigo acreditando que as empresas mais tradicionais, as de loja física na rua, e as pequenas e médias, seguem sofrendo mais”, avalia.
CONSUMIDOR ACOSTUMADO
Por outro lado, a gerente de tecnologia defende: “Se você olha para os empreendedores do meio digital, eles estão ‘explodindo’ ”. Isso acontece porque, na avaliação de Júlia, o consumidor está cada vez mais acostumado com o universo digital em sua rotina. “Com a pandemia, mesmo que o consumidor não gostasse de comprar on-line, ele praticamente foi obrigado a fazer isso, porque não teve alternativa. E como consequência, os serviços digitais também foram muito demandados”, explica Júlia.
Segundo ela, as empresas tech cresceram rápido, se adaptaram, captaram mais dinheiro e acabaram se beneficiando bastante. “E agora, o que estamos vendo, mesmo com o avanço do tempo, é que esse processo não está retrocedendo. Os consumidores continuam usando os serviços digitais. Continuam comprando bastante e fazendo pagamentos on-line. Então só vejo isso como uma situação de ascensão”, diz.
E, diferente do início da pandemia, e com uma condição de maior previsibilidade nos dias de hoje, a especialista afirma que cada vez mais os negócios não terão diferença entre o espaço físico e o on-line. “Essa linha vai ficar cada vez mais embaçada. A loja física pode até continuar, mas que o on-line é importante, isso nunca vai deixar de ser. A pandemia só acelerou esse processo e provou isso ainda mais”, garante Júlia. “Tenho certeza que todas as empresas, até mesmo a padaria da esquina, vão ter que se digitalizar”, defende.
SOLUÇÕES DIGITAIS
Outro ponto importante em meio à nova realidade tecnológica são as ferramentas digitais para gestão financeira, como avalia Júlia. “Trazer soluções digitais para os processos da empresa é uma realidade necessária e vai ser quase uma condição ‘sine qua non’ para todas elas. Nesse mundo on-line, em que tudo é digital, ter empresas que oferecem produtos que ajudam o empreendedor a organizar suas finanças é o melhor dos mundos”, afirma.
De acordo com a economista, ferramentas como cartões corporativos e centros de custos serão uma realidade cada vez maior, com ou sem pandemia. “Está todo mundo pensando em gastos, em custos. O cenário atual do Brasil também é desafiador, com juros subindo, eleição presidencial chegando, e esses pontos do financeiro ficam cada vez mais importantes”, ressalta.