Fundraising: como levantar capital em tempos de crise

Iniciar um processo de fundraising em tempos de crise é desafiador, mas é possível conseguir capital...

Quem é empreendedor sabe que a busca por investidores é necessária em algum momento do negócio. Mas, também pode imaginar que este seja um grande desafio, especialmente no início da jornada. Isso porque, não possuir uma estratégia assertiva de fundraising pode representar um grande risco para o crescimento e até mesmo para o fracasso da empresa. 

O termo inglês, que literalmente se traduz como levantamento (raise) de fundos (fund), ou seja, a captação de recursos para financiamento ou desenvolvimento de um projeto ou startup, é também um dos pontos que deve estar no centro das atenções do dono do negócio.

Esse é o alerta da contadora, especialista em finanças e CEO da startup Boli, Cínthia Liduário. Com ampla experiência na área de planejamento estratégico de empresas, ela já atuou tanto na captação de recursos, quanto analisando negócios que buscavam investimento, quando era controller do grupo Movile, empresa investidora em startups como iFood, MovilePay, Zoop, Afterverse, Sympla e PlayKids.

Continue a leitura para entender tudo sobre fundraising e como levantar capital em tempos de crise!

O que é fundraising?

Fundraising, ou levantamento de fundos, é uma metodologia de criação de processos para tornar viável a captação de recursos ou fundos para o desenvolvimento financeiro de uma startup ou projeto.

Chamamos o fundraising de metodologia, pois há uma variedade de processos e ferramentas necessárias para que a captação de fundos seja um sucesso. Todo esse processo envolve conhecimentos de diversas áreas, como marketing, comunicação, jurídico e finanças, contribuindo para uma estratégia sólida de atração de investidores e doadores.

“Nem sempre é necessário captar dinheiro, mas, para a maioria das empresas de tecnologia, é super necessário e significa fortalecimento do negócio e, principalmente, crescimento acelerado. Planejar uma captação eficiente pode ajudar a manter o foco no negócio e não na escassez de recursos. Nos primeiros passos das startups pode não ser necessário dividir o investimento financeiro, mas encontrar um sócio, ou sócios estratégicos, ao longo da jornada, pode ser decisivo e essencial para o negócio”.

Cínthia Liduário, contadora, especialista em finanças e CEO da startup Boli.

Segundo Cínthia, buscar um investimento é uma medida que visa à saúde da empresa, tanto financeira, quanto estratégica.

O dinheiro nunca vem sozinho. Ele pode vir acompanhado de parcerias estratégicas, expertises, opiniões, bons direcionamentos, mas, também pode trazer cobranças desnecessárias, pressões sem propósitos claros, desalinhamentos de negócio, entre outros pontos. Por isso, é importante investir tempo para descobrir qual tipo de investimento, o perfil do investidor e o momento para se buscar o investimento”, diz.

Qual o momento certo para captar recursos?

Mas qual é a hora certa para fazer a captação? Muitos empreendedores têm dúvida se essa negociação deve ocorrer no início da jornada, ou, posteriormente, em um momento de seed, de pré-seed ou de uma série A. 

Segundo Cínthia, “a pauta já estará presente desde o momento zero da empresa, naquelas primeiras perguntas que o idealizador se faz: O que quero com esse novo negócio? Onde ele vai chegar? Qual é o propósito dele? O que vou construir? O que vou impactar? Se você sabe o que quer e onde quer chegar, comece a desenhar o caminho, o famoso ‘como fazer’. E aí entra a pauta investimentos”, explica.

As perguntas acima virão em diversos momentos e, ao analisar a evolução das respostas, a recomendação é de que o empreendedor esteja sempre atento a planejar e a se relacionar. O networking é fundamental na jornada empreendedora. “Conte sua ideia, colha percepções e demonstre sua paixão. Seus futuros investidores podem estar do seu lado hoje”, comenta Cínthia. 

A especialista ainda completa: “É preciso conquistar seus investidores e ser conquistado. É mais que só apresentar seu negócio e esperar interesse/feedback. É encantar! Uma ideia, por melhor que seja, se sozinha, não faz um negócio dar certo e alcançar sucesso. Mas, a execução define o jogo”, diz.

Outro fator a ser considerado, na avaliação de Cínthia, é o tempo, uma vez que venture capital, geralmente, não chega de forma rápida, fácil e sem esforço. “É um privilégio quando o empreendedor já conhece aquele alguém que se encanta, confia e topa investir logo de cara. Por isso, se você não tem esse privilégio, comece a construir hoje a rede de prováveis investidores que estarão contigo amanhã”, recomenda. 

E, para além da escolha do momento ideal, a maior recomendação é sempre que o fundraising ocorra mantendo a saúde financeira e estratégica da empresa. 

“A captação está diretamente relacionada à estratégia do negócio. As principais definições, como qual montante captar, qual o valor da empresa ou por quanto tempo o investimento vai durar, virão após muita análise e planejamento. Por isso, se confiante nos objetivos e muito atento ao planejamento constante, o empreendedor conseguirá levar seu negócio de forma saudável, fazê-lo crescer e ser aceito pelo mercado. E saberá responder às perguntas acima, ao longo do tempo. O recurso externo chegará para acelerar crescimento e não para garantir sobrevivência. Não espere que coloquem preço no seu negócio, construa o valor do seu negócio”, afirma.

Pré-seed, seed e Series A, o que é?

Se você já ouviu esses nomes, mas não entendeu o que significa, o Simplifica esclarece agora esses conceitos. Pré-seed, seed e Series A são rodadas de investimento que acontecem em startups, cada uma em uma fase do negócio. 

Pré-seed

A rodada de Pré-seed acontece nos estágios iniciais de uma startup, quando estão sendo efetuados os testes iniciais e os primeiros MVPs (produtos mínimos viáveis) são lançados. Entre os principais fundos procurados, são comuns os investidores-anjo, projetos de aceleração, crowdfunding e até mesmo doação de pessoas envolvidas com o negócio, como família e amigos.

Aqui, precisa ficar claro a viabilidade do negócio — essa será a principal pergunta dos investidores. Busque ter argumentos que provam que a sua empresa será capaz de se sustentar e que há demanda em um público específico para a sua solução. 

Seed

Está no estágio de fazer um fundraising para rodadas de investimento tipo Seed aquelas empresas que já estão investindo em marketing e vendas para acelerar o crescimento do negócio. Geralmente, ela acontece depois dos feedbacks de testes e da realização de melhorias necessárias para que o produto ou serviço esteja maduro o suficiente para chegar ao público em larga escala. 

Os recursos levantados aqui são usados para alavancar a empresa, por uma estrutura escalável testada anteriormente. Os principais investidores desse tipo de rodada são grupos de investidores-anjo, fundos Seed e aceleradoras. 

Aqui, para se preparar, tenha em mãos um estudo sobre a projeção da empresa. As principais questões apresentadas são sobre a capacidade de faturamento e o valor que ele pode representar no futuro.

Series A

A fim de conseguir uma estruturação ainda maior para se tornar uma grande empresa no mercado, startups que já conseguiram certo destaque buscam essa rodada de investimento chamada de Series A, geralmente investidas por fundos de Venture Capital e Private Equity.

Aqui, para a argumentação, é essencial mostrar que a stratup pode crescer ainda mais e alcançar uma parcela maior ainda do mercado. Para isso, é fundamental definir o valuation da organização e apresentar as melhores condições para chamar a atenção de investidores.

A importância de um time alinhado

Para que a captação de recursos seja um grande sucesso, todo o processo dependerá de pessoas. “Paixão, clareza de propósito, garra, foco, vontade de aprender, coragem, dentre outras características, são pontos avaliados pelos investidores em relação a quem lidera o novo negócio.

Quando sozinho, o empreendedor pode ficar limitado a construir algo grande. Por isso, formar um time que compartilhe a mesma cultura e mantenha alinhamento estratégico, será crucial para todo processo de fundraising”, alerta.

“Este é um trabalho multidisciplinar e expertises diferentes precisam ser aliadas. Um time financeiro forte vai fazer diferença. O jurídico oferece agilidade e segurança. Além de marketing, comercial e tecnologia contribuírem para o antes, durante e depois do planejamento. Todas as áreas da empresa precisam se alinhar, de modo a garantir boa gestão, para que os recursos que vão chegar gerem ótimos resultados”.

Cínthia Liduário, contadora, especialista em finanças e CEO da startup Boli.

Todas as ponderações são importantes para não haver ‘pontas soltas’ na negociação e, se os fundadores não têm as expertises necessárias, como em finanças, a busca de apoio é fundamental. Consultores, coachings, conselheiros, ou pessoas próximas podem e devem ser convidadas para contribuir em toda a jornada, desde a construção de um bom pitch, até o momento vitorioso do dinheiro na conta.

Já em relação ao quanto se deve pedir para atingir o objetivo de crescimento da empresa, Cínthia explica que é justamente essa junção das demandas de cada área que vai revelar o valor.

“Novamente, é importante haver um planejamento bem feito, para acertar a mão! Dificilmente a conta será 100% assertiva, mas quanto menor a margem de erro, mais vantagens para quem está vendendo. Tente não pedir nem para mais e nem para menos. Esteja confortável com os planos e assegure-se de avaliar seu negócio de acordo com a saúde financeira daquele momento”, recomenda.

Ainda em relação aos trâmites, ela explica que o processo burocrático do fundraising, após o famoso aperto de mãos, pode não ser tão rápido (principalmente quando envolve times grandes, cifras relevantes, advogados externos, etc).

O prazo de negociação depende de muitos fatores, podendo ocorrer em semanas ou se delongar por meses. Por isso, inclua essa previsão no seu planejamento de captação. Não seja o empreendedor que vive em função de investidores, buscando constantemente novos aportes. Planeje bem, execute bem e tenha tempo para o negócio”, diz. Segundo Cínthia, o dono deve estar no dia a dia da empresa.

“É preciso estar com o time, conversar com clientes, fornecedores, experienciar as dores do mercado, ajustar o modelo, sempre que necessário. O negócio se reinventa constantemente, mas se o empreendedor não vive o negócio, ele não identifica se as mudanças estão alinhadas positiva ou negativamente ao propósito para tomar decisões assertivas. Sonhe grande e esteja presente na construção desse sonho!”, conclui a especialista.

Como conseguir levantar capital em tempos de crise?

Em um mundo pós-pandemia da COVID-19, a recessão econômica influenciou muito os investimentos, principalmente em novas empresas, visto que, com menos capital em jogo, a barra subiu e os fundos se tornaram mais criteriosos. 

Mas, é importante lembrar que os fundos de investimento não são a única maneira de conseguir crédito no mercado. As instituições financeiras criaram condições para novos empreendedores e ainda existe a opção de contar com um sócio, investidor-anjo ou até mesmo financiamento coletivo

Em qualquer uma das opções, uma premissa é universal: conheça seu negócio, da primeira à última linha. Tenha seu propósito muito claro, saiba qual problema do público específico você vai solucionar e, principalmente, tenha em mente tudo que acontece no financeiro da empresa, principalmente com relação ao fluxo de caixa, à margem de contribuição e à gestão de capital

Tenha em mãos o plano de negócio, uma boa apresentação, previsão de lucros, estudo de mercado e, se possível, um protótipo do produto ou descrição completa do serviço.

Com isso na ponta do lápis, conheça algumas opções para começar a captar recursos agora mesmo!

Linhas de crédito

As instituições financeiras oferecem linhas de crédito para empresas que estão começando ou precisam estabelecer um capital de giro. Existem diversas opções de pagamento e taxa de juros. Escolha a que faz mais sentido para o seu negócio no momento e fique atento ao valor de cada parcela mensal, independentemente do crédito parecer mais atraente. 

Investidores-anjo

A partir de julho de 2017, a Lei Complementar 155/2016 regulamentou a ação de investidores-anjo, que podem investir de R$50 mil a R$600 mil em microempresas e empresas de pequeno porte. Eles não são considerados sócios e o retorno financeiro pode ser de até 50% dos lucros da sociedade por um período de 5 anos. 

Para solicitar, submeta a sua ideia de negócio no site Anjos do Brasil

Sócios

Conseguir um sócio pode ser uma solução para dar início ao tão sonhado negócio. Porém, essa pessoa ou grupo deve estar ciente das obrigações e responsabilidades que um contrato de sociedade carrega

Mesmo se a busca por um sócio for apenas para captar recursos ou acesso a capital, o sócio tem direito de deliberar sobre as ações sociais da empresa por meio de assembleia. Então, faça um contrato profissional que considere todos os pontos da sociedade, incluindo condições para expulsão e transparência financeira. 

Financiamento coletivo

A popular “vaquinha” é outra forma de levantar capital. Geralmente, ela tem uma contrapartida, como brindes ou bônus, para quem doa para o projeto, acredita na sua ideia ou se interessa pelo seu serviço. 

No Brasil, existem plataformas próprias para captar recursos via financiamento coletivo, em que você cadastra sua ideia e estipula o valor que deve ser arrecadado e o tempo que ficará disponível para receber doações. 

Você quer ter acesso a mais dicas sobre como preparar o seu negócio para começar o processo de fundraising? Confira essa Masterclass!

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