Segundo a pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2021, um estudo sobre carreira em Finanças realizado pela Assetz em parceria com o Insper, uma das prioridades encaradas pelos líderes financeiros para os próximos anos está relacionada à gestão virtual e a distância de suas equipes, desafio trazido principalmente com as restrições da pandemia.
Essa preocupação mostra que as empresas precisaram mudar um pouco a dinâmica de relacionamento e de como gerir. Houve uma queda de barreiras geográficas que gerou transformações até mesmo nos processos seletivos. “Quando nós, headhunters, vamos fazer uma abordagem, fazemos de forma nacional. Isso veio para ficar. Hoje, quase todos os processos que fazemos também são online, mesmo para posições muito estratégicas”, afirma Alexandre Mendonça, especialista em recrutamento da Robert Half.
De acordo com Mendonça, quase sempre todas as abordagens dos candidatos feitas existe a preferência pelo home office, por causa da maior flexibilidade dentro de casa. “A área financeira é uma área que apresentou muitas movimentações. O volume de contratações aumentou muito, principalmente de controllers, CFOs, gerentes financeiros, gerentes de tesouraria e relacionamento com bancos. E isso tende a continuar”, revela o especialista.
Esse movimento no mercado tem as suas razões. “Além do aquecimento do mercado, a gente percebe que as pessoas começam a se movimentar mais rápido porque os laços criados virtualmente não são tão fortes quanto os presenciais. No próprio processo seletivo, vemos também muita gente declinando propostas e saindo no meio da seleção”, explica Felipe Brunieri, sócio-fundador da Assetz, empresa especializada no recrutamento de profissionais da área de Finanças.
Pontos de atenção com o home office de times financeiros
O fato de as pessoas não estarem no escritório traz consequências que a gente já começa a observar. A primeira delas é a parte de treinamento e desenvolvimento. “É muito mais difícil você treinar e desenvolver uma pessoa ou uma equipe virtualmente do que presencialmente. A parte do desenvolvimento de criação de alianças, negociação e a própria liderança precisa ser mais in loco”, ressalta Felipe.
Outro ponto de atenção é a sinergia entre as pessoas. “No virtual, as relações são mais frias, e o brasileiro gosta de estar com outras pessoas. Você pode até aumentar um pouco a produtividade com o home office, mas culturalmente as trocas são mais ricas presencialmente”, defende o especialista em recrutamento.
Além disso, a queda do engajamento também deve ser um aspecto para ficar de olho. “Uma coisa é você entrar em um lugar em que você já conhece todo mundo e ir para o home office. Outra coisa é entrar em uma empresa em que você não conhece as pessoas e precisa estabelecer as conexões virtualmente. A área de Finanças é o ponto focal de todas as áreas de uma empresa. Ela é a centralizadora de muita informação e precisa estar em contato com muita gente. Se você está trabalhando de forma virtual, esse contato fica mais difícil, assim como entender o organograma, com quem é preciso falar para conseguir determinadas informações. Por isso, é preciso ficar atento porque o engajamento pode cair”, comenta Brunieri.
Melhores práticas para o home office de times financeiros
Como quem ocupa cargos de liderança no financeiro encara o desafio de saber lidar com o home office como uma prioridade, o Simplifica procurou quem entende do assunto e listou algumas boas práticas que podem ajudar os gestores financeiros nessa jornada. Confira a seguir:
- Estabelecer dailys/weeklys e rituais de alinhamento de demandas com o time de forma que fiquem claros os entregáveis de cada semana;
- Tentar estar mais próximo dos gerentes com contatos diários;
- Equilibrar a quantidade de reuniões do time, para que não haja desperdício de tempo que poderia ser alocado na realização de tarefas;
- Nas reuniões de time, combinar que as câmeras estejam ligadas;
- Ter uma rotina orientada a resultado, deixando claras as metas (sejam semanais, mensais, do quarter ou ano) e ajudar a estruturar projetos e entregas divididas por tempo para manter a qualidade de velocidade das entregas;
- Firmar uma rotina semanal de 1:1 para entender a situação pessoal de cada integrante do time, validar o que está bom no dia a dia e o que pode ser melhorado. Assim, garante-se bem-estar e performance do time e criam-se rotinas para se ter mais proximidade;
- Estabelecer reuniões mensais para acompanhamento dos resultados;
- Se possível, combinar encontros presenciais no escritório para alinhamento com todos do time ou com os liderados diretos;
- Ter tracking dos projetos e entregáveis e apoiar o time no que precisarem;
- Por lidar com dados muitas vezes sigilosos, é primordial garantir que os membros do time estejam tratando a informação da maneira correta;
- Se não tiver processos definidos, é importante evoluir em termos de tecnologia. Investir em ERPs ajuda a mensurar o trabalho e ser mais on time;
- Separar um horário para trocas de experiências sobre o que é discutido no mercado e para aprendizado;
- Ser mais tolerante e flexível com horários;
- Preocupar-se com o desenvolvimento das pessoas, separando horários na agenda para esse tipo de conversa com os liderados.
Fontes: Pedro Marins, líder de Finanças da Conta Simples, Bernardo Almeida, gerente financeiro da Conta Simples, Alexandre Mendonça, especialista em recrutamento da Robert Half e Felipe Brunieri, sócio-fundador da Assetz, especialista em recrutamento de profissionais da área financeira.
É importante lembrar que, não só para times financeiros, mas para qualquer área, ter rituais fora do trabalho ajuda em momentos de descompressão e união. Bater um papo é fundamental para manter o time unido mesmo que distante fisicamente.
Times financeiros têm muitas tarefas cross entre subtimes e ter esses momentos é crucial para o compartilhamento de informações.
Ferramentas para o trabalho em home office de times financeiros
Como é possível perceber, a comunicação é um fator muito importante dentro do home office de times financeiros. Por isso, ferramentas que trabalham justamente com isso são fundamentais.
No time financeiro da Conta Simples, por exemplo, Slack, Notion e o pacote Office dão aquela força para manter tudo alinhado.
“Fazemos toda a gestão dos entregáveis via Notion. Por lá, acompanhamos de forma assíncrona o andamento dos projetos e possíveis gargalos em que as pessoas precisam de ajuda. Compartilhamos também informações úteis, aprendizados e artigos que lemos e que podem fazer sentido para o time. Mantemos todas as informações da área reunidas ali para facilitar o onboarding de novos membros. O Slack também é fundamental para nós. Criamos canais para cada subtime e um canal único do time financeiro onde são compartilhadas dúvidas cross e informações gerais”, conta Pedro Marins, líder financeiro da Conta Simples.
“Usamos muito o Google Drive e as ferramentas do pacote Office. Existe uma forma de sincronizar tudo em pasta via Teams ou OneDrive, sendo possível várias pessoas acessarem e editarem planilhas compartilhadas direto no Excel”, destaca Bernardo Almeida, gerente financeiro da Conta Simples.
?? Ferramenta gratuita: Gravador de Tela
O que esperar do futuro
A pergunta que muita gente pode se fazer diante desse cenário de transformações é: mas, afinal, o futuro do trabalho vai adotar que tipo de modelo? Será 100% home office, híbrido ou presencial?
Segundo os especialistas, a resposta para essa questão tende mais para o modelo híbrido. “Um contato físico entre as pessoas mesmo que algumas vezes por ano é importante para team building e manutenção da cultura. Algumas posições podem demandar presença física no escritório a depender do escopo, porém não é necessário a ida ao escritório todos os dias”, afirma Marins.
“Com as tecnologias que temos hoje, qualquer pessoa pode executar seu trabalho bem de casa. Mas, a presença no escritório ainda é importante para consolidação da cultura das empresas e interação entre as pessoas”, completa Almeida.
Em 2022, essa realidade do modelo híbrido será implementada por 48% das empresas, como indica a 18ª edição do Índice de Confiança Robert Half® (ICRH), que levou em consideração as respostas de 387 recrutadores, coletadas entre 3 e 30 de novembro de 2021.
O levantamento mostra ainda que 38% das empresas devem retornar ao modelo 100% presencial, enquanto apenas 3% devem seguir no modelo 100% home office. Para este ano, 11% dos entrevistados afirmaram ainda não ter o modelo definido.
Quem já definiu o modelo híbrido de trabalho para 2022, optou por um maior equilíbrio entre casa e escritório, com 30% delas exigindo a presença dos trabalhadores no escritório três vezes por semana, e 28%, duas vezes por semana. Somente 4% definiram o escritório como local de trabalho em quatro dias, e 6% deverão comparecer apenas uma vez por semana.
“Tivemos uma evolução muito forte em processos em diferentes áreas. As ferramentas tecnológicas evoluíram muito para facilitar e ter mais proximidade no home office. Muitas empresas criaram indicadores para mensurar a qualidade do trabalho, serviço, timing e desempenho dentro dessa nova realidade. O mercado vem desenvolvendo isso. Como o distanciamento das pessoas gera também uma falta de sinergia entre as equipes, acredito muito no modelo híbrido, com alguns dias em casa e outros na empresa”, conclui Mendonça.
“Em Finanças, especificamente, vejo o futuro com o modelo híbrido, com pelo menos 40% do tempo de trabalho em casa e 60% no escritório. Como há muito assunto estratégico e, principalmente, muito assunto confidencial, é melhor estar presencialmente com as pessoas para debater os temas, desde a parte contábil, planejamento estratégico, planejamento financeiro, tesouraria. Quanto mais o mundo se tornar virtual, mais as relações humanas serão valorizadas”, reforça Brunieri.