Você já parou para pensar em quanto o mercado tech vem ganhando espaço nesses últimos anos? Como a pandemia impactou esse setor e o que podemos esperar para os próximos anos?
Para entender melhor esse panorama, o Simplifica procurou o Thiago Maceira, managing director do Itaú BBA, que explicou alguns pontos importantes nesse cenário de crescimento acelerado.
Ficou interessado em saber mais sobre o assunto? Então, não perca as perspectivas que são apresentadas a seguir.
O contexto dos ciclos virtuosos no mercado tech
Uma das grandes dificuldades enfrentadas anteriormente pelo mercado tech era o crescimento exponencial. “Não havia infraestrutura necessária para isso. Com os investimentos em infraestrutura na área de telecom, impulsionada pelo 4G, passamos a ter mais acesso com uma velocidade e estabilidade necessárias para uma experiência boa de internet. Assim, isso permitiu que a gente tivesse empresas com grande crescimento exponencial”, lembra Maceira.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração, segundo Thiago, é o de ciclos virtuosos gerados com o uso da tecnologia. “À medida que o cliente tem uma experiência em que é possível comprar com um clique, ele vai querer comprar mais coisas assim. Com muito investimento, fomos melhorando isso ao longo do tempo. Com esse avanço, houve mais crescimento e valuations maiores, chamando mais dinheiro porque os fundos começaram a investir. Esse ciclo passou a se retroalimentar, porque houve mais capital entrando. Começou devagar e foi acelerando”, afirma.
Basicamente, estamos falando de um ciclo virtuoso que funciona assim: você tem muito mais capital e a experiência naturalmente melhora. “O investimento que foi feito em logística no Brasil e em soluções de serviços financeiros melhorou ainda mais a experiência dos usuários. O consumidor quer cada vez mais o online, e isso gera mais oportunidade. Daí, você consegue atrair mais capital”, resume Thiago.
“Para tecnologia, é muito importante o usuário estar disposto a experimentar. Também passamos por um momento de muita liquidez no mercado, então tínhamos muito capital de risco disponível. As pessoas começaram a ver o mercado brasileiro crescendo muito e com capital de risco disposto a investir. Assim, tivemos uma sofisticação do nosso ecossistema”, completa o especialista.
Os efeitos da pandemia no mercado tech
Não é novidade que a pandemia forçou a aceleração das soluções digitais. Ela teve um impacto muito negativo na sociedade, mas também apresentou como efeito colateral o fato de acelerar a adoção da tecnologia por necessidade. “Empresas que estariam prontas para um IPO em dois, três anos passaram a ter tamanho para dar esse passo em curto prazo, e mais do que isso, elas passaram a ter um mercado endereçável que justificava a captação de R$500, 600 milhões de reais, o tamanho mínimo para fazer um IPO”, relata Maceira.
A partir do momento em que o mercado está mais endereçável, com mais pessoas fazendo transações online, o tamanho da oportunidade fica maior. E se o tamanho da oportunidade fica maior, isso justifica investimento maior. “Estamos vendo rounds muito grandes porque o mercado brasileiro está ficando muito grande. Estamos no meio de um super ciclo em tecnologia. Agora vamos ter um momento de criação de grandes ecossistemas. Não está muito claro para onde a gente vai, mas não me surpreenderia se o tamanho dos cheques aumentassem ainda mais”, adianta Thiago.
Uma questão de transversalidade
Em termos de perspectivas, uma coisa interessante que Thiago aponta como tendência é justamente a transversalidade que a tecnologia pode assumir. “Acredito que a tecnologia vai deixar de ser um segmento e vai passar a ser um tema transversal. O que é tecnologia e o que não é vão ser irrelevantes. Acho que vão existir especialistas e campeões nos diversos setores com aplicação de tecnologia”, destaca.
“Empresas de software nos nichos corretos continuam sendo de grande interesse porque têm essa característica de recorrência, previsibilidade e eficiência na cadeia. Mas, você começa a ver em todas as áreas empresas que são disruptivas sendo relevantes. Serviços financeiros e educação ainda têm grande espaço no mercado. Real state e saúde apresentam um grande potencial de disrupção, porque são mercados grandes e que ainda têm muita coisa analógica. Agrobusiness também possui grande oportunidade no Brasil. Ou seja, em todo subsetor, você tem uma aplicação de tecnologia ou de um novo modelo de negócio por meio do uso de tecnologia. Essa é uma transformação da economia”, conclui.