As startups brasileiras experimentaram uma verdadeira explosão de investimentos de venture capital em 2021 e receberam R$ 53 bilhões, distribuídos em 779 negociações.
Dados do Inside Venture Capital Report, divulgados pela plataforma Distrito, mostram que o volume total aportado em 2021 teve um crescimento de 165% frente ao ano anterior.
Para 2022, os bons ventos permanecem, mas um pouco mais conservadores, como avalia Mário Mello, sócio do Grupo Valor Capital, gestora americana de investimentos em startups.
Mello, que também é e ex-diretor do Paypal para a América Latina, ressalta que as perspectivas podem sofrer algumas interferências, levando em conta a diferença de cenários de um ano para o outro.
Segundo ele, dois fatores prometem impactar a oferta de venture capital em 2022: a valorização das empresas de tech e as eleições para presidente no Brasil.
“Acho que o mercado vai crescer, mas não nos números que a gente viu em 2021. Tivemos um momento muito positivo para o mercado brasileiro no ano passado e, neste ano, tem questões voltadas para a valorização das empresas tech no mercado público, que é um fator que tem que ser considerado, do ponto de vista de alocação de capital”. Mário Mello, sócio do Grupo Valor Capital
Mário completa: “Há ainda uma incerteza acerca das eleições, com riscos que o resultado pode gerar sobre como vai ficar o cenário a longo prazo e a inflação global. Isso também muda a visão dos investidores”, avalia.
Setores prioritários para Venture Capital
Segundo Mário Mello, 2022 é um ano que deve priorizar oportunidades e volumes de venture capital especialmente para empresas de seguros, fintechs, tecnologias de blockchain, infraestrutura de cripto e também edtechs e healthy techs.
No caso da Conta Simples, plataforma de serviços financeiros que reúne conta corrente e cartões corporativos inteligentes, as expectativas também são positivas.
“Só esperamos crescimento. O Valor Capital foi um dos colíderes do processo da Série A. Temos um track record muito bom e fizemos uma boa análise do investimento. Também gostamos muito do time e estamos muito otimistas com a Conta Simples para 2022”, disse.
Em 2021, a fintech concluiu sua rodada Série A, uma das maiores em fintechs de 2021, liderada pelo fundo Jam, do cofundador do Tinder, e pelo Valor Capital. Também foi a segunda startup brasileira a receber aporte da Y Combinator, além de passar a integrar a lista das 100 Startups to Watch (PEGN) e das 50 Startups que mudam o Brasil (Exame).
Sobre os aportes volumosos de 2021, em startups de modo geral, Mello destaca os principais fatores que levaram ao resultado. “Fomos pioneiros em Venture Capital no Brasil e temos muito orgulho disso. O que aconteceu ano passado é reflexo da maturidade no mercado de startups no Brasil. Muitas empresas maturaram, fizeram IPOs. Tivemos um aumento de talentos e mudanças de infraestrutura em diversas dimensões, seja em estrutura tecnológica ou estrutura regulatória.”
Segundo Mário, havia, anteriormente, uma barreira muito grande para a entrada no mercado, sendo necessário milhões para criação de uma instituição financeira. “Antes tinha que comprar servidor e isso acabou. A gente vê isso muito em fintech. Até 2013, tinha que ter uma licença de banco múltiplo, de US$ 20 milhões. Agora você pode ter uma licença de instituição de pagamento, e isso não custa nada. Então o banco Central também teve um papel muito forte neste mercado de fintechs. Disruptou as regras de forma estruturada, consistente e sem gerar risco sistêmico”, avalia, dizendo que todas essas mudanças geraram oportunidades para criação de empresas e alocação de capital de venture capital”, afirma.
Ainda segundo ele, o boom nos aportes é um reflexo da taxa de juros, que ficou na casa dos 2% por muito tempo, além da alta oferta de capital. “O capital é uma parte importante também. Se você tem tudo isso e não tem capital, é complicado que a empresa venha a acelerar”, diz.