Um verdadeiro intensivo sobre o ecossistema de inovação, tecnologia e empreendedorismo. Assim foi o Startups Fever, evento que reuniu cerca de 600 pessoas durante oito horas do último sábado (25/07) para abrir o jogo sobre mercado, gestão financeira, investimentos, carreira em startups e outros temas. Com mais de 40 palestrantes de unicórnios e scale-ups se revezando no palco, o evento permitiu aos participantes uma leitura clara sobre o atual momento do ecossistema de inovação.
Entre os destaques do evento, as projeções para o mercado de venture capital deram a tônica de como serão os próximos meses no setor de investimentos. E, apesar de os ventos já não serem mais os mesmos de 2020 e 2021 e o mercado exigir cautela, Carlos Pessoa, diretor de Relações com Investidores da G2D Investimentos, e Marcelo Hoffmann, da ABSeed Ventures, veem boas perspectivas para alguns setores de startups, especialmente aquelas que se mantiverem eficientes e com “unit economics” saudáveis. Ambos palestraram no painel Oportunidades de Venture Capital no Brasil.
“A gente esperava que ia haver uma desaceleração. Foi mais abrupta do que a gente imaginava. Mas não altera nossa tese, nem nosso pace de investimento. Vamos continuar investindo em companhias que têm bons fundamentos, bons índices econômicos e tecnologia diferenciada, times bons e grandes mercados”, afirma Carlos.
Para o investidor, que estima o prazo de 12 meses para o fim do “inverno do venture capital”, as empresas que vão sobreviver e se desenvolver são aquelas com boa posição de caixa. “Empresas que não precisam levantar capital necessariamente para continuar seguindo a vida. Uma coisa é levantar capital para continuar crescendo. A outra é para continuar a operação. Empresas que estão no modo sobrevivência vão sofrer bastante”, afirma.
Ele alerta que ou esse tipo de companhia amadurece rápido e ou consegue achar um modelo de negócio para parar de pé. “Ainda que não cresça ou que cresça menos. Porque esse inverno vai passar e quando passar muitos vão ficar pelo caminho e quem chegar do outro lado vai estar numa condição muito melhor”, ressalta.
Do mesmo modo, o fundador da ABSeed, Marcelo Hoffmann, vê bons horizontes a longo prazo. “Acredito que o mercado ainda vai trazer coisas bacanas para empreendedores e investidores. O mercado ainda está líquido, temos excelentes oportunidades, especialmente no Brasil, país que se digitaliza de forma importante”, diz Marcelo.
O investidor ainda destaca os modelos promissores: “Negócios de Software as a Service (SaaS), com software na nuvem e alguns segmentos que chamam atenção no Brasil, como mercado financeiro, fintechs, mercado de saúde, logística e educação. Vemos ainda muito espaço para que empresas possam se constituir de movimentos de transformação no mercado local”, afirma Marcelo.
Naturalmente que em qualquer contexto turbulento, explica o fundador, é importante que os líderes, as lideranças, coloquem à prova sua capacidade de construir cenários, de planejar os melhores caminhos, de fazer escolhas, considerando as hipóteses mais otimistas, mas também eventualmente as menos, para que não sejam surpreendidos no meio do caminho. “Mas, em geral, nosso tom é extremamente positivo e acredito que esse período vai passar rápido”, afirma.
Empresas SaaS
Apesar do momento difícil, Rodrigo Dantas, CEO da Vindi, concorda sobre o bom momento e o crescimento das empresas SaaS no Brasil e no mundo. “Se tem um perfil de empresas que pode sobreviver a uma crise, e historicamente já tem exemplos disso, é uma empresa de software como serviço. Elas tendem a crescer por conta da escala, do modelo recorrente e porque são empresas de base tecnológica”, afirma.
Apesar da boa prospecção, o executivo faz um alerta geral: “Capital será um desafio e é preciso mudar a mentalidade do empreendedor que estava acostumado a fazer rodada porque a jornada vai ser diferente. Então, deve-se manter olho no caixa, atenção à receita, e distribuição no canal certo porque essa vai ser uma receita que os empreendedores vão demorar para encontrar”, diz.
Blockchain
Outro bom nicho de oportunidades destacada no Fever foi o blockchain, tecnologia que viabiliza transações com moedas digitais e que tem ganhado espaço no mercado brasileiro e global. Existe um grande investimento em startups do setor, e o mercado financeiro abre um leque de possibilidades para sua utilização.
Para Eduardo Vasconcellos, ex-Valor Capital e fundador da plataforma de conteúdo Bits, Stocks e Blocks, o blockchain está crescendo e sendo discutido exatamente por ser uma nova plataforma descentralizada. “O Brasil já é um dos países com maior adoção de criptomoedas. E as oportunidades estão muito relacionadas não só a criptomoedas em si, mas à tecnologia, principalmente no setor financeiro, ajudando a criar mecanismos mais eficientes, menos custosos e que possam ter maior impacto”, avalia.
“Então, finanças descentralizadas, muitas vezes podem ser usadas para permitir que instituições acessem um capital que não estaria disponível em um mercado local. Isso tudo com uma tecnologia mais eficiente, com stablecoins, ativos que são rastreados em moedas como euro ou dólar, permitindo isso”, diz o fundador.
Ele ainda cita um dado importante do report da GMA, divulgado recentemente, dizendo que o Brasil é o segundo país, só atrás da Indonésia, em termos de adoção de criptomoedas em relação à porcentagem de ownership da população. “Também de acordo com o diversos outros reports, o Brasil está sempre posicionado entre os cinco a 10 países onde há maior adoção de cripto”, diz.
Fundraising e IPO
Dois importantes processos que também foram tema de debate no Fever foram as rodadas de fundraising e o IPO. “Tem ajuste de termos e de expectativas e da logística de como o processo de fundraising acaba sendo feito. Vai ter mais diligência, um processo que demorava uma semana vai levar 1, 2 ou 3 meses. Vai ter menos euforia e processos mais estruturado”, avaliou Bernardo Brites, fundador e presidente da Trace Finance. Ele participou do painel “Fundraising na vida real: o segredo está no pitch?”, durante o Startups Fever.
Já quando o assunto é a IPO, a palavra dita no palco do Fever repetidas vezes foi planejamento. “A preparação de uma empresa para fazer o IPO é uma jornada. Não é algo que você planeje para daqui a seis meses, por exemplo. Ao contrário, se planeja para daqui a 3 anos, pelo menos”, afirma a diretora financeira do GetNinjas, Cynthia Hobbs. Para o processo de abertura de capital, Cynthia detalha que a empresa deve ter suas demonstrações financeiras auditadas por três anos e toda a documentação muito correta. Também é necessário todo o trabalho de um time de consultores, jurídico, e relação muito próximo aos investidores.
Espaço de conexão
O Startups Fever teve ainda um vasta programação sobre carreiras, empreendedorismo feminino, vida de unicórnios, gestão financeira baseada em dados, empreendedorismo e muito mais. Também promoveu um grande espaço de conexão e networking entre o público presente. O Fever foi realizado no espaço Eventos JK, no Shopping Iguatemi, no último sábado (25/06) e foi promovido pela fintech Conta Simples, o portal Startups.com.br e a StartSe.
“Levamos ao palco do Fever, C-levels, investidores, gestores e gestoras das principais startups do Brasil, todos abrindo o jogo sobre os assuntos mais desafiadores da atualidade. A programação teve conteúdo de altíssimo nível, muitas discussões ricas nos painéis, networking de sobra e muita informação útil, ainda mais nesse momento de mercado”, afirma o CEO e cofundador da Conta Simples, Rodrigo Tognini.