Nos últimos anos, o cenário econômico colocou em evidência muitas empresas que conquistaram o tão sonhado IPO, sigla em inglês que se refere ao fato de as companhias abrirem a opção de compra de suas ações na Bolsa de Valores.
Pensando na relevância desse tema, o Simplifica foi em busca de quem entende do assunto para você entender tudo sobre ele e ainda tenha contato com insights valiosos que possam ajudar no seu dia a dia.
Pronto para esta imersão*?
O que é IPO?
O IPO é uma sigla em inglês que significa “Initial Public Offering”, que pode ser traduzido como Oferta Pública Inicial. Esse termo pode parecer complexo, mas não é difícil de entender. Ele é o processo para oferecimento de ações ao mercado pela primeira vez, ou seja, a distribuição inicial em uma Bolsa de Valores que permite aquisição de parte da companhia por investidores.
O objetivo principal do IPO é trazer sócios para o negócio, já que, ao comprar uma ação, os investidores também se tornam proprietários de uma fração da empresa. Dessa forma, ela deixa de pertencer a um único dono e ganha acionistas. Algumas ainda garantem poderes decisórios a depender do volume de ações comprado.
Todo o processo de IPO é acompanhado de perto pela Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, que regulamenta o mercado de capitais. Por isso, nem todas as empresas podem abrir o capital e nem é um processo simples, pelo contrário, o programa tem várias etapas e precisa atender a todos os requisitos dos órgãos reguladores.
Quem pode fazer IPO?
Antes de fazer um IPO, a empresa precisa cumprir alguns requisitos legais e regulatórios. É necessário, por exemplo, estar juridicamente constituída como uma sociedade anônima, S/A, em que seu capital seja dividido em ações, não em cotas — como acontece nas companhias limitadas.
A empresa que deseja abrir seu capital também precisa apresentar uma série de documentos relacionados a relatórios financeiros auditados externamente, a aspectos fiscais, à governança corporativa, a controles internos, à conformidade, a recursos humanos e também à própria estrutura societária.
Qual a diferença entre IPO e follow-on?
Em resumo, a Oferta Pública Inicial, ou IPO, acontece quando a empresa abre o capital, ou seja, lança suas ações na bolsa pela primeira vez. Já no follow-on, a empresa já está na Bolsa de Valores e pretende fazer uma nova oferta pública de ações.
É importante ressaltar que para fazer um follow-on a empresa necessariamente deve ter passado pelo processo de IPO. Porém, ao contrário deste que é feito apenas uma vez, o primeiro pode ser realizado em mais oportunidades.
Passo a passo para fazer IPO
Como você pode notar, todo o processo de IPO não é feito do dia para a noite. Do início ao fim, o cumprimento de todas as etapas pode levar de oito meses a três anos. Veja as principais fases de como fazer um IPO correto e seguro:
- Converse com seus sócios e parceiros se realmente faz sentido fazer IPO;
- Escolha bem um intermediário financeiro, que acompanhará o processo do início ao fim;
- Se prepare para passar por toda a jornada, desde o recolhimento da documentação até o pós-IPO.
Primeiro passo: perguntar-se se realmente faz sentido fazer IPO
Andres Mutschler, CEO do Westwing, ressalta que entender muito bem se esse é o caminho certo para sua empresa é o primeiro passo. Isso faz toda a diferença na hora de se preparar para abrir o capital, tanto do ponto de vista jurídico quanto do capital social da sua empresa.
Por isso, a dica é: converse com outras empresas que já passaram por isso para ver se esse processo faz sentido para a sua empresa. A Méliuz, por exemplo, passou por essa experiência e já contou como foi para ela.
Segundo passo: escolha um intermediário financeiro
Todo o processo de IPO é realizado por uma corretora, banco de investimento ou distribuidora, que coordena a operação do princípio ao fim.
Trata-se de uma instituição que dará todas as orientações necessárias, então pense muito bem e escolha com cuidado. Uma dica importante é buscar um parceiro que tenha o mesmo perfil que a sua empresa.
Terceiro passo: preparação, preparação, preparação
Segundo a CFO da GetNinjas, Cynthia Hobbs, o processo de IPO é uma jornada com muitas exigências, edições, documentações, contratos, due dilligence e burocracias.
Na GetNinjas, por exemplo, todo o processo durou três anos, portanto foi preciso se preparar bastante.
O registro da empresa de capital aberto requer a entrega de demonstrações financeiras em padrões pré-estabelecidos, além do laudo de uma auditoria externa independente. Também é preciso uma reforma no estatuto, já que será necessário a caracterização e os direitos das ações, além dos direitos e deveres das assembleias de acionistas e do conselho administrativo.
Ou seja, muito trabalho e muita preparação em jogo antes de chegar ao IPO propriamente dito.
Desafios do IPO
Desde a decisão de fazer a abertura de capital até o pós, que é lidar com as mudanças, o caminho é cheio de desafios. Por isso, escolher os parceiros que estarão junto nessa trajetória é muito importante. São eles que vão conduzir o processo e precisam estar a par de tudo que acontece na empresa.
Outro aspecto destacado pelo CEO do Westwing são as armadilhas do curto prazo x longo prazo. A análise inicial, todas as fases do processo e, finalmente, a oferta pública deve ser visando o longo prazo, o crescimento de forma sustentável e a disciplina financeira com os resultados.
Um ponto essencial mencionado por ele, que já passou pelo processo de IPO, é se manter fiel à proposta inicial. Isso porque, em um mercado volátil como o de ações, as coisas mudam muito rápido e isso pode refletir positiva ou negativamente na empresa, nos colaboradores e nos investidores.
Assim, manter o core do negócio é fundamental para superar momentos financeiros difíceis e saber como lidar com os bons momentos.
Quanto tempo dura o IPO?
Segundo consultoras independentes sobre o assunto, desde o planejamento e preparação para a abertura de capital até a finalização do processo, fazer um IPO pode levar de oito meses a três anos.
Quais habilidades preciso aprimorar no processo de IPO?
Na visão dos especialistas que viveram na pele a experiência, algumas habilidades acabam sendo muito bem-vindas para aprimorar o processo de IPO.
Para Márcio Kumruian, fundador da Netshoes, ZiYou e Tunne, desenvolver a governança faz toda diferença. Ter um bom conselho administrativo é importante também, já que a empresa vai passar por diversas auditorias.
Andres Mutschler, CEO do Westwing, acredita que a resiliência é uma característica fundamental para conseguir gerenciar tanto o time quanto a imprensa no processo de IPO.
Já Cynthia Hobbs, CFO do GetNinjas, pontua que trabalhar a comunicação dos resultados é imprescindível, principalmente quando eles não são positivos, para os investidores, os consumidores, os colaboradores e a imprensa.
O que vem depois do IPO?
Após a finalização do processo de IPO, acontecem as negociações no mercado de investidores. Assim, as ações da empresa serão negociadas na bolsa e a dinâmica de demanda e oferta vão influenciar o preço das ações.
Com isso, algumas mudanças acompanham essa nova fase. De acordo com a CFO da GetNinjas, internamente, é possível perceber uma profissionalização acelerada, um crescimento exponencial e uma virada de chave.
Para Márcio, a disciplina financeira com resultados deve ser dobrada, pois o olhar precisa ir além dos números básicos.
Quer aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto? Leia a entrevista com Eduardo L’Hotellier, CEO do GetNinjas.
*O texto acima foi produzido com base na apresentação do painel A vida pós-IPO, do Startups Fever 2022.